(Para Sofi, que é esperta como um leão e come como um ratinho)
Era um camundongo muito distinto, pois tinha
por distração degustar nobres queijos.
Para que fique claro não ser este um
caso banal, cabe distinguir tal hábito de outros, próprios dos demais
camundongos deste mundo, que, nos últimos milênios, devoraram qualquer
alimento, resultante ou não da coagulação e fermentação do leite.
O nobre roedor se afirmava pelo
requinte e moderação, visto que não se dava a roer queijos com o destempero
próprio dos de sua espécie, mas degustava-os como quem busca alimento para a
alma, deleite para o espírito.
A apreciação –como discorria o esperto
animal– exigia conhecer não só a procedência do produto, como também seus modos
de fabricação:
- Moldagem e coagulação!
- Salga e pasteurização!
- Acabamento e maturação!
Atentar ao queijo que iria consumir –se
maturado por fungo ou bactéria– era tratado pelo animal como coisa séria, lhe servia
ao apetite e dava muito prazer.
Só não dava prazer à madame Lili, iniciada
na arte de bem receber, nos segredos do bem-viver, e anfitriã involuntária do
camundongo.
Desgostosa de partilhar sua mansão e as
refeições com tão asqueroso ser, disposta a não mais aturar impertinências, Lili ordenou ao mordomo dar cabo do animal.
O mordomo, escolado nas taxas de
desemprego do país, tratou de cumprir com zelo a missão. Mas, altivo que era, negou
o uso da pobre e cruel ratoeira.
Preferiu outros subterfúgios, bem
possível que esperando um desfecho mais intrincado, mais cinematográfico, e passou
a travar franco diálogo com o camundongo:
- Posso servi-lo emmenthal... com absinto, excelentíssimo rato?
- No
thanks, prefiro
gruyère, emproado criado!
- Talvez, munster, com... cicuta?
- Pardon, hoje estou mais para sbrinz.
- Permita oferecer-lhe géromé, com... arsênio?
-
Oh gracias, but I
prefer pont-l’evêque.
- E um fino cammembert, com... malation?
- Excuse, mas terias livarot?
Aturdido ante a astúcia do animal, o
mordomo abriu mão da pompa, arregaçou as mangas em seda e passou às vassouradas,
mas erro-as a não poder mais e, então exausto, deu-se por vencido.
Diante de tão indecoroso desfecho, madame
Lili prostrou-se e lhe foi diagnosticada fina depressão.
Ao mordomo então restou apenas zelar
pelos caprichos da senhora:
-
Aceita
cheddar, madame?
-
No thanks, prefiro um port-salut... com Prozac!
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