Vestindo sofrido terno, ele bradava certezas,
ali, na praça, de pé, reto, impoluto! E apontava o caminho da salvação; e
investia raivoso contra os de pouca bondade no coração; e lançava ofertas de
bem-aventurança; e dizia que a estrada da fé era plaina, bordeada de relva,
para os que devotavam fé ao Senhor; e lamentava, vociferava contra os
passantes, os hereges, os que transformavam a bem sinalizada avenida da
salvação em labirintos de perdição; e dizia bastar confiar no sinal, crer nas
verdades bíblicas que dele emanavam em sentenças miradas no juízo final, fiar-se
em vereditos sem instâncias de apelação!
A poucos passos dali, recostado no balcão do
bar entre tortas e cervejas, o homem próximo, irmão da vida desregrada, escutava
pouco atento os verbos da pregação, das morais pregadas a golpes de marreta, e
entendia mais prudente alimentar o corpo do que se lançar em tais aventuras do
espírito, pois antes para ele as trilhas tortas do que as amplas avenidas da
cega fé, pedagiadas com tarifas sempre proibitivas aos passantes, ao menos àqueles
sem tamanha ambição à eternidade.
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