ônibus...()

centro...

bar... ()

Arroz feijão

prato feito

arrazoado.

Bife ovo

amanhã

de novo. 

ruas...

Que se passa!?

ruas...

Ele observa e lança sobre a multidão um mundo de xingamentos.

ruas...

Ele sempre praguejou contra a letargia do povo, agora acha tudo muito perigoso...

Metrô...

Patriarca...

Na esquina da Patriarca, a porta descerrada, pichada, a loja violada.

Óculos, relógios, bugigangas levadas por mãos afoitas. Nenhuma monetária transa. Ação à vista, sem troco, sem nada.

Curiosa cena: ali ao lado, virginal, incólume livraria.

Na confusão, ninguém se deu por livros. Em correria, nenhuma mão deles se apropria; a massa encrespada não surrupia livros. Nas prateleiras, todos os autores em desabusada ordem. Para as coisas literárias dispensam-se tropas de choque. Volver!

Fúrias e ganas se bastam com relógios e outras coisas bacanas...

moça...

centro...

metrô...

gentes... ()

nua...

nua...

filigranas...()

Mediados pela xícara de café, seus pensamentos galgaram outros planos, para além dos voos rasantes:

 “Que chinesas filigranas conferem a esta moça trejeitos assim tão delicados? Quão finas caligrafias – caracteres de estranha, estrangeira tradução – a imprimir na moça encanto, a embaraçar quem lhe é leitor. Não nanquim, papel, papiro. Não também Shang, Tang, Ming, Sung. Ali, seda sim a pela alva. Desenhos eternos rabiscados em presentes gestos”

rabiscos...

nó...

Ele conquistou a aposentadoria, mas o nó na garganta não o abandona. Foram muitos e muitos anos de laços de gravata no pescoço...

fim de feira...

A banca está vazia sob o sol de domingo e a barraca deve ser desmontada, pois novas semanas e novas feiras virão...

Anhangabaú...

Ele espera o ônibus...

Anhangabaú...

Seu dia não foi o que prometia, mas amanhã, quem sabe...

Xavier de Toledo...

Ele espera o ônibus...

feira...

Ele carrega caixas com frutas...

feira...

Ele ajeita com arte chuchus e abobrinhas na banca...

metrô...

metrô...

centro...

Caminha o homem, ele arrasta consigo o pesado mostruário de cds...

outonais...

Ele bebeu do doce vinho e sorveu deliciado tudo que pôde daqueles momentos. Lá fora o céu azul...

nua...

corpo...

corpo...

magrinha...

Descalça no parque, a menina magrinha senta à pedra e - tão gritante - ouve-se-lhe o pensamento: "Que lindo dia! Como é possível ao pássaro fazer tantos voleios, riscando com fino traço o céu azul do outono?"

coisas de índio...

Ele se diz índio, embora não saiba precisar a tribo...

feirante...

O feirante lamenta o frio e os chuviscos que marcam a manhã de domingo, afugentando fregueses e encalhando mercadorias.

plano de saúde (3)

“Nosso departamento financeiro diagnosticou que a senhora goza de plena saúde”.

plano de saúde... (2)

   “Vamos sim isolá-lo, uma vez que sua infecção no pulmão pode contagiar o balanço econômico da nossa empresa”.

planos de saúde...

“Após cuidadoso exame  clínico, diagnosticamos que seus males são incompatíveis com as leis de mercado”.