quinta-feira, 31 de dezembro de 2015
"Animálias" (caixa de pintura)
quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
domingo, 27 de dezembro de 2015
Os arranjos do político com o diabo
DIABO
Aguardávamos ardentes tua presença!
POLÍTICO
Oh,
perdão o atraso. Houve uma pane na linha Vermelha, aquela que lá da terra desce
a estas quentes profundezas.
DIABO
Pois
bem-vindo ao inferno. Para estes imprevistos teríamos também a linha Púrpura
não fossem os problemas da licitação.
POLÍTICO
Oh,
compreendo...
DIABO
Talvez um adendo ao contrato...
POLÍTICO
sim...
mas por que me tiraste da dura labuta na terra?
DIABO
És político.
POLÍTICO
...mas
não pecador.
DIABO
(virando-se para os demais diabos): ...e é dos
bons, cultiva o shakespeariano dom da ironia. Aliás, onde anda o maldito bardo?
DEMAIS DIABOS
O
perdemos de novo. Nalgumas vezes dá as caras por aqui, noutras, dizem que
passeia no céu. Corre que o ingrato busca aqui inspiração, mas escreve nas nuvens.
DIABO
Falávamos
do pecador...
POLÍTICO
É verdade
que me dediquei a uns conchavos...
DIABO
Daqui tudo vimos admirados.
POLÍTICO
Queimar-me-ão?
DIABO
Seria um prazer e um desperdício. Viciosos e
perdulários que somos, lançaríamos alegres teu corpo e teu alma às chamas. Apesar
da crescente legião de pecadores que dia-a-dia despenca sobre nossos chifres, a
crise ora se abate sobre o inferno. Ocorre que estão nos faltando talentos. Aqueles
que aqui adentram trazem tão só os míseros e já previsíveis pecados bíblicos.
Diabos, apreciamos o tédio, mas muito mais nos deliciamos quando excitados.
POLÍTICO
Estão
lhes faltando pecados?
DIABO
Não, não, o pecado é mercadoria que temos
abundante às mãos. Dela bem tiramos a mais-valia. A vida mundana nos farta de
pecados. Diria eu, em modos acadêmicos – e quantos acadêmicos estão a nos
servir –, que a crise é mais qualitativa do que quantitativa. Assim como vocês ao
pescar pouco tiram pelo anzol carnudos peixes do mar poluído, temos garfado raras
almas criativas no pecar. Gulas comezinhas, enfadonhas cobiças, pobres
luxúrias... ah, disso o inferno está cheio. Já não temos mais onde depositar o
carvão das ineptas almas aqui queimadas. Todas inaptas ao bom pecado. Refiro-me
ao pecado genuíno, aquele que surpreende, que arrepia e excita.
POLÍTICO
E
pretendem encontra-lo na política?
DIABO
Onde mais buscar o feroz pecado senão em sua
toca?
POLÍTICO
Compreendo...
mas a política é a arte do bem governar...
DIABO
Oh, Senhor! Estimamos a retórica vã e a
verborragia, mas até no inferno há limites. Temos pressa e muitos assanhamentos
a alimentar.
POLÍTICO
Tentarei
ajudar...
DIABO
Pois, bem. Dispensemos os grandes e bem
intencionados tratados políticos, ainda mais porque já temos aqui filósofos
suficientes para deles tratar. Queremos a política chã. Aquela que nasce e
morre a cada dia. A que ofende o bom-senso. A política das rinhas, dos
maus-modos, das rasteiras. A política das mentes ocas e das palavras toscas. Enfim,
ansiamos pela política que resvala e encarde o chão.
POLÍTICO
Ah,
porque não foste mais claro desde o início.
DIABO
Ô incauto! Esperas encontrar clareza nas
penumbras do inferno?
POLÍTICO
Até onde as
labaredas iluminarem...
DIABO
Neste
lugar o clarão das chamas só gera trevas. Desembucha, pois, sobre teus medonhos
modos.
POLÍTICO
Confesso
que dediquei minha vida à política mesquinha.
DIABO
Confessar... aqui não fazemos uso de tal
expediente. Veja, os colegas (aponta para os demais diabos) estão a babar pelos
segredos da má política. Prossiga então caro pecador, para gozo de minha gente.
POLÍTICO
Fui
garfado por Vossas Senhorias no auge da politiquice. A morte deixa uma obra
inacabada. Mas atuamos em bando, digo em partido...
DIABO
Dispensa os eufemismos, também já os temos por
demais. Muitos ardem entre nós tão só pelos excessos de seu uso. Assim
como construímos uma sala especial para os cultivadores dos gerundismos,
reservamos uma galeria inteira para os maus poetas e suas figuras de linguagem.
POLÍTICO
Data venia...
DIABO
(virando-se para os demais diabos) Lembrem-me
de erguer um pavilhão dedicado às datas venias.
DEMAIS DIABOS
(em
coro): Assim faremos Lú!
DIABO
Lúcifer!
Chamem-me de Lúcifer!
DEMAIS DIABOS
Cabe
lembrar que já temos o amplo salão dos advogados, que se dedicam noite e dia a
cantar datas venias em refrão, em eterno Allegro vivace.
DIABO
Perfeito!
(voltando-se para o político) Vai homem, fala... pelo amor de... digo, tens a
palavra.
POLÍTICO
Serei
sucinto.
DIABO
Deixe
disso, adoramos o prolixo. Fique também à vontade para as hipérboles.
POLÍTICO
Prossigo
então. Confesso..., melhor dizendo, admito que eu e os meus nos dedicamos,
alinhados, em bloco, e com boa dose de sadismo, a despetalar a fina flor da
democracia.
DIABO
Já
tivemos muitos problemas com os que vociferam loas à democracia. Quando as
percebemos sinceras, despachamos o impertinente de volta à superfície.
Felizmente, são muitos os falsos democratas. Deixemos para lá... e você e os
seus foram eficientes na empreitada?
POLÍTICO
Até antes
dos bafejos da morte esfriarem-me o cangote, creio que sim.
DIABO
O regimento não nos permite trazer-lhe com
vida. As sádicas regras da burocracia são aqui muito admiradas. Semeamos a
desordem com o adubo da burocracia.
POLÍTICO
Entendo,
lidávamos lá também até a exaustão com o torcer e o retorcer das regras.
Algumas vezes chamávamos isso de “interpretação jurídica”. Posso dar seguimento
às minhas colocações?
DIABO
Coloque-se
como e onde o senhor bem entender. Se assim lhe convier, faça uso de um
palanque, note que eles estão por todo canto.
POLÍTICO
Observo
em meio ao fogo muitos palanques e púlpitos.
DIABO
Temos
recebido boas safras de padres e pastores. Procuramos deixa-los à vontade. Pregam com os olhos voltados para os céus, mas têm os pés bem pregados no inferno.
POLÍTICO
Ah, os dízimos e as contribuições
partidárias... bem, voltando ao assunto, falávamos das artes da política miúda.
Dos negócios de balcão.
DIABO
Sim, da política que a todos corrompem.
POLÍTICO
Essa
mesmo. A politicalha.
DIABO
Vá
infeliz, siga! Abra tua alma, que não mais se ampara na muleta do que antes tinhas
por corpo.
POLÍTICO
Perdão, o
barulho... chamas-me entre as chamas?
DIABO
Abaixaremos
o volume das almas clamantes. Estou aqui, entre o fogo, a pedir sim que
prossigas.
POLÍTICO
Sinto-me
um tanto triste...
DIABO
Já
penavas tu em vida na terra. Tão só não te davas conta.
POLÍTICO
Sinto-me
perturbado.
DIABO
Aqui
perturbamos. Vá!
POLÍTICO
As manhas
do ofício me consolam. Abro perante ti meu já impalpável coração.
DIABO
Os
capetas estão se mordendo exaltados. Eles estão famintos por bons pecados. Fala!
Alguns de nós temos a pele em calafrios. Outros já as têm purulentas. Fala!
POLÍTICO
Havia
antes resolvido me calar. Mas também carrego minhas ânsias...
DIABO
Somos
todos ansiosos e mal resolvidos. Fala!
POLÍTICO
Meus
advogados...
DIABO
Estão
todos em fogo brando, cantando suas datas
venias.
POLÍTICO
Tudo a
seu tempo...
DIABO
Temos
nossos assanhamentos, mas também todo o tempo do mundo. Este é um mundo onde se
dilapidam horas.
POLÍTICO
Pois bem,
abro-me! Quando em vida, tomamos os interesses populares como matéria vil. A
soberania do povo sobrepujamos. Os princípios da legalidade fizemos uso tal
qual quem se prostitui. Agimos como matilha quando em arranjos partidários. Em falsas
bancadas, bancávamos bons sendo maus. Tudo que avilta e afronta demos em
microfones o nome de política. Bradávamos liberdade cortejando a ditadura.
DIABO
Oh,
brotam-me exultantes lágrimas... quanta torpeza, quanta vilania!
POLÍTICO
O debate
em plenário ornávamos com as rendas da perfídia e da malícia. Com astúcias e mentiras
alimentávamos nossas famintas bases eleitorais. Conluio, eis para mim e os meus
a essência das eleições. Éramos lobos em pele humana! Fazíamos tanto das nossas
que o incauto cidadão desejava a oposição quando confrontado com a situação, e
aspirava a situação quando dava ouvidos à oposição.
DIABO
Uma obra genuinamente
diabólica... onde aprendeu tanto?
POLÍTICO
Venho de
um país emergente...
DIABO
“Emergente”,
apreciamos muito esses termos. Somos pobres diabos, entre outros motivos, porque
pouco estudados, mas desconfio que chamam isto também de eufemismo. Assim como
os poetas, muitos santos já adentraram nossos portais por insistirem nesses
pecados.
POLÍTICO
Nós velhacos
aviltamos a política e cutucamos o cão raivoso que atende pelo nome de
Fascismo. Flertamos com a democracia e fornicamos com o totalitário.
DIABO
Ah, os fascismos
e os facínoras! Temos apreço pelos incendiários à direita e à esquerda! São
eles que mantêm acesas as labaredas do inferno. Para dizer a verdade – ainda
que sempre mentindo –, veneramos os extremos. O muito e o muito pouco. Curtimos
a letargia e a exaltação. A melodia dos elevadores e o funk pancadão. Gostamos
dos marasmos tanto quanto das revoluções. São os nossos velhos generais e suas
trapalhadas revoluções que animam em orquestras e orquestrações o baile deste calorento
hospício.
POLÍTICO
Pois
nossa criativa mistura de indiferença com os valores coletivos e assanhamento
com os interesses pessoais muito colaboraram para tornar o pobre mais pobre e o
rico mais rico.
DIABO
Os
capetas se mordem em êxtase. Atingistes os píncaros da ruindade. És bom no
fazer o mal.
POLÍTICO
Ora
tentei fazer com meu melhor o pior...
DIABO
A
humildade não é boa moeda por estes lados. Tanto ardil te dará privilégios no
arder em nossas chamas.
POLÍTICO
Sinto-me
desde já aquecido em vossos braços e rabos.
DIABO
Quanto
hipocrisia! És político!
POLÍTICO
Espero
contar com os votos de todos os demônios aqui presentes.
DIABO
Seus discursos
e percalços nestas trevas estão garantidos. Vamos com acalentado ódio
pavimentar seu caminho entre abismos.
POLÍTICO
Posso adiantar essa parte mediante comissão de
20%.
DIABO
Adiantar
o quê, torta alma?
POLÍTICO
A
pavimentação.
DIABO
Ah,
perfeito! (para os diabos) O rapaz é mesmo dos bons, digo dos maus.
POLÍTICO
O senhor
é meu mestre... mas peço a minha parte em “cash”.
DIABO
(para os
diabos) Diabos!, Tô falando... este homem é infernal!
DEMAIS DIABOS
Medonho
mesmo, Lú.
DIABO
Lúcifer!
Lúcifer! Lúcifer! Canalhas! Ele é agora, se sempre já não foi, dos nossos! Providenciem-lhe
um espeto, chifres e longo rabo. O rabo mantenham-no colado ao corpo, pois era da
natureza terrena de tal homem o rabo preso.
DEMAIS DIABOS
Suas estridentes
ordens imperam na desordem, mestre! Tanta maldade dá-nos gozosos calafrios,
temos os pelos desgrenhados! Brotam-nos à pele doces furúnculos.
DIABO
Desgranhentos,
vão para o inferno! (voltando-se para o político) Que dia feliz para este
capeta! Estou nos céus, digo, no seio de onde brota o mal!
POLÍTICO
Tenha
desde já o meu eterno afeto.
DIABO
Ah, mesmo
cansado, sobram-te ainda farelos de hipocrisia. Aqui encerramos, temos que ir.
Nós diabos estamos sempre atrasados no duro ofício de bem conservar o mal
eterno.
POLÍTICO
Muitos
conchavos juntos faremos. Vou pôr a descansar meu rabo.
DIABO
Passar
bem!
POLÍTICO
No
inferno?
DIABO
Ironia,
meu “bom” homem, ironia. Lembre-se que aqui apreciamos muito a ironia.
sábado, 26 de dezembro de 2015
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
quinta-feira, 24 de dezembro de 2015
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
terça-feira, 22 de dezembro de 2015
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015
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domingo, 20 de dezembro de 2015
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sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
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"E não invejemos os que estão mais elevados: o que parecia estar nas alturas está defronte a um precipício". "Sobre a tranquilidade da alma", Sêneca |
quinta-feira, 3 de dezembro de 2015
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"Tão grande, no entanto, é o mau-caratismo dos homens, que, apesar de terem recebido muito, é para eles motivo de ofensa o fato de que poderiam ter recebido mais" "Sobre a ira", Sêneca. |
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
político... ()
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
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