segunda-feira, 30 de setembro de 2013

peremptório... ()

Do parlatório, o doutor de súbito interrompeu o debate e declamou:
“Meu relatório é peremptório e não admito mais falatório!”
Calou-se então o público ante a dura poesia que emanava por força de lei. 

domingo, 22 de setembro de 2013

na praça...

A mãe corre e pragueja: "Volta aqui menino; peste de criança, ave corredora, para de faniquitos, de fricotes, volta aqui!"
Mas o menino nem pensa em voltar. Corre o menino, com nariz apontado para o céu, olhos fechados. O garoto de canelinhas finas corre e parece sonhar, sonhar que voa, que a vida é boa e que ela nunca haverá de lhe faltar. E lá vai a mãe atrás do menino que voa...

sábado, 21 de setembro de 2013

centro... ()

Sentado à mesa do bar, ele observa os passantes e espera o pedido...

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

voltares...

“Voltei-me!”, ela falou, como quem quisesse dizer que voltara por completo, totalmente. Que nada deixara para trás. O “Voltei-me!” como quem diz: “aqui estou plena – sua – e a vida está repleta de possibilidades”.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Inácio, o galináceo ()

(Para a dona da Katy e da Havana)

Inácio, o galináceo, vindo de longe, do mato cerrado, donde os galos cantam a plenos pulmões, adentrou o quintal emparedado, donde o sol se esconde vez em quando entre altos prédios.
 Chegou triunfante e esparramou-se em cacarecos, em altos cantos, certo de que o dia estaria em breve a raiar em lindo alvorecer.  E mais cocoricou porque do muro lhe chegou à vista duas formosas galinhas, ainda empoleiradas, encantonadas, alheias ao canto de Inácio e aos primeiros humores da manhã.
Katy e Havana, duas frangas sonolentas, ainda de toucas, entocadas, mal humoradas, duas frangas citadinas, migradas do campo, há muito urbanizadas.
“Que galo formoso, bem afeiçoado!”, admitiram as galinhas ainda de olhos meio fechados, um tanto remelosos. Mas logo reagiram, e do poleiro praguejaram: “Formoso seria esse galo, não fosse ele o próprio diabo a fazer tanto esparramo, a gritar em altos brados, a cedo cucuritar em versos mancos, a azucrinar nossas orelhas, que cedo não cedem à melodia, só depois do meio-dia!”
Porém, grande é a autoestima dos galos. Daí, Inácio, o galináceo, exibindo a linda crista sob os raios oblíquos do primeiro sol, lançou longo, longo grito, como numa récita, como se fora tenor:

“Cócócócóri...CÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓOÓÓ!!!!!!!!!!”

O canto ecoou vigoroso por entre as empenas dos prédios vizinhos e bateu doído, dum modo que deu pena, nas orelhas das frangas cheias de sono.  
“Isso não é galo, é o cão; de madrugada, que danação!” se rebelaram as galinhas, ainda que sem tirarem do poleiro as quentes patinhas.
“Essa hora, qualquer grito e eu me irrito!”, abriu o bico Katy.
“Essa hora, qualquer canto e eu me espanto!”, abriu o bico Havana.
Mas o galináceo queria sucesso. Dali do muro se via num palco, tendo por holofote o sol que principiava. No dourado da manhã, sentiu sua crista reluzir, suas penas se encresparem. Inácio então encheu o peito e encenou o derradeiro ato:

“Cócócócóri...CÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓOÓÓ!!!!!!!!!!”

“De manhãzinha, mas que canto de peru!”, piou Katy.
“De manhãzinha, isso é galo ou urubu?” piou Havana.
Irritadas, as frangas cacarejaram num só coro:

“Calado!
Calado!
Calado!”

Enfim magoado, Inácio baixou a crista. E lá se foi embora Inácio, o galináceo, convencido de que na cidade galo de muito alarido não dá pra marido.
E lá se foi o galo Inácio, calado, lamentoso de que naquele terreiro não haveria de ter ovo galado. 

moça...


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Cravos... ()

(provocando a pequenaestilista1.blogspot.com)

Ele se esmerou na vestimenta, com terno risca de giz e um cravo na lapela. "Mas há muito não se usa cravo na lapela, ainda mais em ternos risca de giz!", lhe disseram os seguidores de moda. "É demodê!", ficaram todos a reclamar.

Então, ele levantou os olhos tristes: "Senhores, não se deem a escarnecer de mim! Todo dia cravo no peito, cravo no peito o punhal afiado do abandono, sangro singrando mares de solidão, sentindo na carne todo escarnio, todo desprezo. Daí no peito o cravo encarnado, como a afirmar o coração que definhou. Cravo cravejado de lágrimas, quem dera a flor pulsasse em meu tórax frio. Senhores de finos panos, o cravo na lapela e o terno risca de giz é terna lembrança dela, da moça que nunca tive e a quem eu sempre quis".

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

guichê...

Ele dá moedas contadas e aguarda ansioso a conferência...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

domingo, 8 de setembro de 2013

Alien Nação

“Com uma das mãos, a direita, tremulo a bandeira da Pátria; com a outra, a esquerda, vandalizo. Mas tem dias que troco de mãos”.

sábado, 7 de setembro de 2013

O tatu e a gaivota ()

Do buraco, o tatu levantou o sujo focinho aos céus e se encantou com o voo desgarrado da gaivota.

Nas estranhezas do amor, o tatu se encantou pela gaivota.

Das nuvens, a gaivota avistou no chão o bicho cascudo, e acenou alegre, admirada com as garras em firme solo do tatu.

Nas estranhezas do amor, a gaivota se enamorou do tatu.  

Assim, o tatu quis céu, a gaivota quis terra.

Quereres tão estranhos às leis da natureza fizeram com que outros bichos se assanhassem a protestar.

E relincharam, mugiram, grunhiram, cacarejaram, berraram, uivaram, ladraram, piaram, grasnaram, zumbiram, roncaram e muito mais vociferaram, ciosos das convenções sociais, as dadas aos animais.

Mas tantas injúrias pouco adiantaram, pois delicadas penas e rudes escamas se encontraram, e de tanta luz e tanta sombra nasceu o filho do tatu com a gaivota.

O tatu sonhou legar à cria certa ousadia para enfrentar do alto o mundo, enquanto a gaivota suspirou transmitir ao filho a segurança de quem se abriga entre sólidas raízes.

Não sendo humanos, logo se entenderam e ao filho da gaivota com o tatu foi dado viver com a ousadia das asas e com a firmeza das garras. 

moça...


sexta-feira, 6 de setembro de 2013

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

domingo, 1 de setembro de 2013

invernais...

A mulher caminha ao sol de inverno do meio-dia... 

casa...

A casa, a velha casa, a lhe insinuar sonhos, afetos, proteção...