segunda-feira, 27 de maio de 2013

obra... ()

Pesam sobre ele, se não o mundo, sacos de cimento...

bar....

O trabalho foi duro pelo manhã e ele reclama da pouca maionese no x-tudo. 

domingo, 26 de maio de 2013

Centro...

O moço espera por alguém que não se vislumbra no horizonte...

feira...

"Aí, freguesia, melhor que aplicar em banco!
Me dá dois reais, ganha cinco milhão, dos grandes!"


sábado, 25 de maio de 2013

praça...

No banco sentada, a mulher olha a criança brincar. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

sábado, 18 de maio de 2013

O príncipe mimado

(Para Sofia)

Vivia um reino às voltas com o destino de seu príncipe.

O rei, inquieto com o futuro daquele menino que já vislumbrava homem, resolveu fazer o que sempre fazem reis em fábulas: uma festa para escolher princesa.

E pôs seus serviçais à busca de jovens que cativassem tão exigente príncipe. Já que pedido de rei é ordem, não precisou reiterar: mensageiros se lançaram às pressas pelo reino até suas bordas mais distantes.

Como a vida dos súditos não estava fácil, choveu candidatas a princesa. Algumas muito belas, outras nem tanto. Umas estudadas, outras tantas nem tanto. Algumas bem intencionadas, um monte nem um pouco.

Todas, no entanto, juraram dedicação sem fim, afeto desmedido, amizade perpétua, paixão duradoura, amor eterno etc etc etc. Coisas de aspirantes à princesa. E nenhuma deixara de ler “O Pequeno Príncipe”.

Como toda família considerava ser dela a futura princesa, anteciparam a folgança. Mas a longa espera pelo príncipe conduziu os reinóis a polêmicas, maledicências  apostas e outras condutas que até o rei duvidava, visto ter seu povo por afável e educado.

Não precisou muito para o rei perceber que desde o anúncio da festa seu reino passara a ter pouca governança e muita reinação. Vendo que realmente em seus domínios reinava a balbúrdia, bradou solene:

 - Que seja logo feito o raio dessa festa!

Deste modo, veio o dia da festança. À porta do castelo, pencas e pencas de moçoilas chegavam de terras próximas ou distantes, embaladas pelo sonho do príncipe amado e outras coisas – diziam – pouco importantes, como vestidos finos e jóias. Vinham a pé ou cavalo, em carroças, charretes ou mesmo, as muitas desafortunadas, nos ombros dos parentes.

Ante esbaforidas moças que invadiam seu castelo, o príncipe praguejava ser preferível a solidão das masmorras àquela barafunda organizada pelo pai.

            Convém mencionar que, na ânsia de bem casar as filhas, dizia o povo ter o príncipe grandes virtudes, embora fosse lembrado mesmo por seus muitos defeitos. Era voz corrente ser o príncipe mimado demais, rabugento demais e um tanto quanto chato.

Talvez fosse tudo isto mesmo, ainda que os que o conheciam tivessem como certo uma só coisa: o fastio do príncipe com o mundo fazia-o desdenhar tudo o que lhe era próximo ou distante.

Mais aborrecido ainda estava o rei com a situação de seu herdeiro. Com enfado, ordenou então o início imediato da procissão de jovens casadouras. Como para o príncipe desgraça pouca era bobagem, foi-lhe determinado que bailasse com todas, uma após uma, para melhor escolha da felizarda. E assim se fez.

Boquiabertos, povo e rei aguardavam o bailar para conhecer a preferida do príncipe. Para momentos de tanta importância havia o porta-voz do rei, que ao fim das infindáveis danças perguntou em tom pomposo e bajulador:

-          Bailaste como um anjo nobre príncipe, o quê tens a nos dizer de tão lindas jovens?

-          Venerável rei, querido povo, bem sei que dançar com belas damas não é nenhum estorvo, ensaiou belo discurso o príncipe, arrancando sorrisos. E prosseguiu:

-          Embora sobre pernas bambas e pés esfalfados, dou a saber minha opinião sobre as garotas que como num sonho dancei:

-          A primeira
é moça bela,
mas cheia de remela!

- A segunda
É moça boa,
pena rir à toa!

- A terceira,
parece uma boneca,
se bem que meio careca!

- A quarta
é moça divina,
mas tem canela fina!

E prosseguiu o príncipe, para desconforto do rei:

- A vigésima
é moça de muita graça e leveza,
mas também de farta lerdeza!

E seguiu a tagarelar, para desgosto do rei:

- A centésima
é moça atraente,
mas deveras saliente!

E concluiu, para fúria do rei:

- Por fim, a milésima
é moça bem apresentada,
mas pra lá de assanhada!

            Com fastio, mas com também certo amor à vida, fugiu o príncipe tal um raio para seus aposentos, já prevendo a reação do pai e do povo.

E houve reação. Naquela manhã, toda a produção de tomates e ovos das redondezas do palácio foi lançada pelos súditos ordeiros na cabeça dos barões, duques, cardeais, bispos, generais, do papa e do próprio rei.

Com pouco feijão à mesa e sem o sonho da realeza, deixou o povo, a partir de então, por raiva, de pagar impostos.

             A princípio, o rei foi gentil: enviou carta cheia de filigranas aos reinóis relatando muito do bom que o fisco propiciava ao povo e pouco do muito que tais tributos ofereciam à boa vida da nobreza. Sem sucesso, logo adotou estratégia menos elegante. Recorreu então à masmorra, à chibata, ao desterro. Mesmo assim, nada de imposto.

Privado de seus tributos, o rei vislumbrou a ruína de sua dinastia, a agonia de seu reinado, o fim de seus privilégios. Tomado de cólera, determinou aos poucos que ainda o serviam:

-          Conduzam às soleiras deste palácio o diabo de uma princesa! Vasculhem os vales mais distantes, lancem-se além-mar, fustiguem povos nunca dantes vistos. Ao poder do ouro ou força das armas, tragam-me uma princesinha qualquer ...please!

Ao alvorecer, a armada do rei saiu alvoroçada em busca de uma amada para o príncipe. Tanto vasculharam que o mundo se fez pequeno. A serviço do rei desbravaram novas rotas, confrontaram civilizações até então desconhecidas, se depararam com cenários paradisíacos, oceanos bravios, monstros cruéis. Alheios a tudo isso, os serviçais do rei tinham por único tesouro aquilo que fora rejeitado pelo príncipe... uma princesa!

E no milésimo dia encontraram o bem precioso. Em reino de mil palácios e incalculável riqueza, foram informados da existência de uma princesa. Bela, bela não era, convenhamos, mas lhe bastava a nobreza.

Sem demora, os oficiais do rei fizeram uso da força das armas, uma vez que o poder do ouro não lhes era lá essas coisas. A lenda diz que se travou batalha de mil dias, embora vozes aqui e acolá – maldosas, decerto - garantam que o reino de mil palácios não tenha feito tantas objeções, cedendo sua princesa até com certo alívio. 

De uma forma ou outra, os bravos soldados do rei retornaram ao castelo com a princesa e sob aclamação pública. Mesmo sedada, vendada e amordaçada, ficou para sempre na memória do povo a imagem da entrada triunfal da princesa nas dependências do palácio, linda e plena de felicidade, como num conto de fadas.

O rei, agora menos angustiado, exigiu a presença do príncipe e, mais que isto, um bailar de sete dias sem descanso para que o rapaz finalmente se convencesse das alegrias do matrimônio.

E assim se fez. Bailou, bailou, bailou o príncipe sete dias e sete noites sem parar. Até que o porta-voz se fez ouvir, tomando para si a irritação do rei:

-          Bailaste como um condenado nobre príncipe, desembucha com presteza tua opinião a respeito de tão delicada e nobre dama!

-          Exausto, desfalecido sobre o mármore do salão, balbuciou o príncipe, quase inaudível, mesmo com tamanho silencio e atenção de todos:

- Para minha surpresa
é moça de rara beleza,
de delicada nobreza,
uma verdadeira princesa,

(silêncio, silêncio, silêncio, aflição, ânsia, angustia...)

...mas tem a língua presa!!!!

Aaaaaaahhhhhhhhhh!!!!!!, exclamaram todos, lançando-se de pronto sobre o príncipe, que, mesmo esgotado, reuniu forças para, tal um coelho, fugir por léguas e léguas.

Quanto ao rei, foi escrachado e em seguida deposto. Sem palácio, jóias, carruagens, pajens e outras bobagens, restou-lhe levar a vida para aonde a vida lhe levasse. Comprou uma casinha, em longas prestações, lá pelos cantões do reino, agora uma república.

Do príncipe, não queria mais ouvir falar. Até que um dia, sua esposa, a antiga rainha, de tanto insistir, o convenceu a novamente abrigar o pobre rapaz.

Fustigado sem descanso pela mulher, aquele que antes fora rei venerado finalmente aceitou o retorno do filho, agora não mais príncipe.

           Acomodado novamente em casa, o ex-príncipe, ainda solteiro, voltou a receber o mimo materno, para desgraça daquele que já fora rei:

-   O que achou da sopinha de aspargos que mamãe fez para você esta noite, nobre filhinho?

-  Ora, mamãe,
adoro aspargos,
embora amargos,
e a sopa não está nada mal,
pena falte sal!

Do canto onde estava o rei voou um tamanco, que, certeiro, encontrou a testa do mimado príncipe.

Fim!


sexta-feira, 17 de maio de 2013

chocolate e hortelã...

Ele quis beber do fino vinho. E quis ele ter à boca o chocolate e a hortelã.
Depois, almejou dormir no calor dos travesseiros. Assim feito, sonhou o moço que telhados se abriam, generosos, como a lhe ofertar visão para um naco do céu. 

Metrô...

"Mentira!", disse ele; "mentira!", repetiu ele; "mentira!", insistiu ele.
Aberta a porta do trem, ele se lançou plataforma afora e nada mais se ouviu da conversa do homem ao celular. No Paraíso, ficou o caminhar de um homem por demais atazanado. 

quinta-feira, 16 de maio de 2013

flor...

De repente, as  venezianas se abrem e ele aparece na ampla janela, afastando cortinas e recolhendo o único vaso, o vaso de uma só flor.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

obra...

É hora do almoço. Ele comeu sobre sacos de cimento e agora dá as caras na calçada. Ainda há muitas vigas a concretar...

lanchonete...


Ele assiste TV enquanto aguarda o sanduíche.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Outonais... ()

Na penumbra em meio a livros, abrigado do vivo céu outonal,  ele se dá conta de Nietzsche:

"Os figos caem das árvores, são bons e doces: e ao caírem rasga-se sua pele rubra. Um vento do norte sou para os figos maduros.
Assim, como figos vos caem esses ensinamentos, meus amigos: bebei seu sumo e sua doce polpa! É outono em torno e puro céu e tarde." 
a

segunda-feira, 13 de maio de 2013

feira...

Ela come pastel de queijo e mira a barraca de roupas...

domingo, 12 de maio de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

Centro...


Metrô


outonal...()

Raios do sol do outono do céu azul do dia frio desabam sobre nossas cabeças alegres. E a conversa é boa. E a água tem o odor da hortelã. A mesa é farta o suficiente: nem o muito nem o muito pouco. E o cheiro do café... como haveria de sofrer o mundo – guerras – se o céu é azul de outono...
Prefeitos de muitos e bons votos das cidades banhadas pelo outono: fazei-vos por lei, Vossas Senhorias, Excelentíssimos Alcaides, do outono um só feriado, desde o findar do verão até o inverno em seu princípio! E em decreto mandai vós, todos, em fila, os cidadãos, ao parque! Sujeitem os adoradores de escritórios aos raios solares! Submetam os contadores, os gerentes, as secretárias, os fiscais de renda e as ascensoristas, também os amantes de alcova e os rufiões, ao chão de relva do vasto canteiro central da avenida! Proíbam que os meninos das creches se ponham à sombra, com eles as crianças em correção; dê menos de uma hora para que lhes tirem as botas e comprometa-lhes os pezinhos à grama! Ponham os presos no pátio, se liberdade não lhes cabe – se é que não lhes cabe mesmo no cumprir das penas –, imponha-lhes a suavidade do sol e alguma companhia, creiam com fé que a luz outonal há de lhes amenizar a gana! Se com carros não se brinca, pois o progresso é primo-irmão das petrolíferas e das automobilísticas – disto sabemos desde criancinha –, ao menos, por decreto ou resolução, impinjam ao automóvel um roncar de motor mais mansinho, mansinho até quase parar, de modo que o gorjeio dos pássaros se firme às margens das autopistas! E ordene, aí com a devida polidez, que a fria política se exerça no calorzinho bom da praça ensolarada!
Já isto basta, pois para a montanha das outras muitas chagas do mundo são precisos outros muitos mil outonos de sol em céu azul!

quinta-feira, 9 de maio de 2013

feira...

"Que venha a chuva, nos protegemos sob a barraca. Que rareiem os fregueses, faremos lucro em outras freguesias". 

outonais...

Na avenida de muito trânsito insiste-lhe à mente o sol outonal na varanda de finas pilastras; o cheiro do limão e do jasmim, o cheiro de café, o silêncio que oprime e impõe ao olhar encargos, as formas que fácil se fazem notar. Tudo se junta a lhe dar foros para o dia, a lhe dar doces promessas para quando entardecer.

terça-feira, 7 de maio de 2013

outonais...

O sol de outono se foi, a noite fria, a estrada da vida é também estreita e sinuosa. Mas certo é que noites mais amenas virão, quando em leito amplo poderás recostar o corpo e em meio a travesseiros estarás protegida, aquecida, como se o sol outonal rompesse em raios a cerrada veneziana.

corpo...


segunda-feira, 6 de maio de 2013

A borboleta e a minhoca ()

Certo dia, uma borboleta se achou minhoca e do ar pousou ao chão em busca de desvão. As minhocas – que não eram borboletas – notaram o estranho fato e perguntaram por que tão belo ser buscava o árido solo.

A borboleta, no entanto, estava entretida na sua condição de minhoca. E tanto fez que se ajeitou à terra. Feliz na geologia do lar, renegou o ar, a luz e toda intensidade do mundo. Assim feito, pensou ter encontrado paz.

Mas, por estranho que pareça, uma minhoca, sua vizinha, passou a se ter por borboleta. Quis cores muito além de seu mundo ocre e rompeu a argila rumo à luz.

No caminho, deu-se com a borboleta tida por minhoca. Ávida pelo mundo, a borboleta – por natureza minhoca – apaixonou-se por tão belo semelhante. Por sua vez, a minhoca – de natureza borboleta – viu na outra o próprio semblante.

Desde então, pouco se sabe das estranhas criaturas. Dizem, porém, que a borboleta – certa de ser minhoca – voltou a revelar alguma simpatia pelas nuvens. E a minhoca – mesmo que borboleta – expressou leve agrado pelas rochas.

nua...


sábado, 4 de maio de 2013

Consolação...

É sábado, mas seu corpo pede terno...

feira...

Ela pára diante da banca, gira com habilidade o carrinho, se detém a observar os legumes, apalpa-os em busca dos mais íntegros e, por fim, anuncia com autoridade: "Quero um quilo de berinjela!"