domingo, 20 de março de 2016

outonais...()



Tão logo se abriu a nova estação, a moça de pronto assim falou: 
“Oh, que calmo azul contemplo eu! Sejamos felizes – todos! – em tão ansiado outono, que espanta do céu os maus presságios, as tempestades, e encharca o coração com graciosas luzes”.  
No azul do céu, o gorjeio estridente ao modo das aves; em terra, a moça a ver o céu com modos suaves. 

segunda-feira, 14 de março de 2016

o grito...




Embora o espanto rebente sempre do inesperado, o assombro da moça se fez não por um único sobressalto, não pelo vulgar estrondo de modos, que treme e agita por demais o corpo, mas pela composição de leves sustos, uma sucessão de quase intangíveis abalos, frêmitos tão delicados que o grito esperado se conteve em sussurro e sorriso, para surpresa de quem sorrateiro ali se apresentou para surpreender. 

domingo, 13 de março de 2016

Marta sob a geladeira...

Marta tem a cabeça no chão. Marta tem à vista o forro carcomido. Marta tem as torneiras secas e o teto em goteiras. Marta tem a casa em penumbra. Marta tem a esquálida cama e o piso úmido. Marta só tem o triste quarto. Marta tem muita idade e medos. Marta tem abandono. Marta tem um braço em tipoia e o outro ferido. Marta tem na cozinha o corpo sob uma geladeira.  

Marta sob a geladeira...


Marta sob a geladeira...


Marta sob a geladeira...


Marta sob a geladeira...


Marta sob a geladeira...


rua...



corpos...