terça-feira, 20 de agosto de 2013

invernais...

Safo da ordem que rege os passantes, acobertado em finos trapos, seus olhos aparentam leitura recente de Nietzsche:

“O inverno, um hóspede ruim, está em minha casa; azuis estão minhas mãos, graças ao aperto de mão dessa amizade.
Eu respeito esse hóspede ruim, mas de bom grado o deixo sozinho. Fujo de sua presença; e, quando se corre bem, escapa-se dele!
Com pés e pensamentos quentes corro para onde o vento está parado – para o canto ensolarado de meu monte das oliveiras.
 (...)
É um hóspede duro – mas eu o respeito, e não rezo, como os fracotes, ao barrigudo ídolo de fogo.
É ainda melhor bater um pouco os dentes do que adorar ídolos! – assim quer meu feitio. E detesto especialmente os ardorosos, fumegantes, abafados ídolos de fogo.
Quem eu amo, amo-o melhor no inverno do que no verão; zombo melhor e mais efusivamente de meus inimigos agora, desde que o inverno está em minha casa.
(...)
Eu – um que se arrasta? Jamais na vida me arrastei ante poderosos; e se alguma vez menti, menti por amor. Por isso, estou também alegre no leito de inverno.
Um leito magro me aquece mais que um leito rico, pois tenho ciúmes de minha pobreza. E sobretudo no inverno ela me é mais fiel.
Com uma maldade dou início a cada dia, zombo do inverno com um banho frio: isso faz resmungar meu severo amigo de casa.
(...)
Todas as coisas boas são de origem múltipla, – todas as coisas boas e travessas pulam de prazer para dentro da existência: como poderiam elas fazer isso apenas – uma vez?
Coisa boa e travessa é também o longo silenciar e, como o céu de inverno, o olhar de um rosto luminoso de olhos redondos. –
– como ele, silenciar seu sol e sua inflexível vontade solar: em verdade, aprendi bem essa arte e essa petulância de inverno!”


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