Raios do sol do outono do céu azul do dia frio desabam sobre nossas cabeças alegres. E a conversa é boa.
E a água tem o odor da hortelã. A mesa é farta o suficiente: nem o muito nem o muito
pouco. E o cheiro do café... como haveria de sofrer o mundo – guerras – se o
céu é azul de outono...
Prefeitos de muitos e bons
votos das cidades banhadas pelo outono: fazei-vos por lei, Vossas Senhorias, Excelentíssimos
Alcaides, do outono um só feriado, desde o findar do verão até o inverno em seu
princípio! E em decreto mandai vós, todos, em fila, os cidadãos, ao parque! Sujeitem
os adoradores de escritórios aos raios solares! Submetam os contadores, os
gerentes, as secretárias, os fiscais de renda e as ascensoristas, também os
amantes de alcova e os rufiões, ao chão de relva do vasto canteiro central da
avenida! Proíbam que os meninos das creches se ponham à sombra, com eles as
crianças em correção; dê menos de uma hora para que lhes tirem as botas e
comprometa-lhes os pezinhos à grama! Ponham os presos no pátio, se liberdade
não lhes cabe – se é que não lhes cabe mesmo no cumprir das penas –, imponha-lhes a suavidade do sol
e alguma companhia, creiam com fé que a luz outonal há de lhes amenizar a gana! Se com
carros não se brinca, pois o progresso é primo-irmão das petrolíferas e das automobilísticas – disto sabemos desde criancinha –, ao menos, por decreto ou
resolução, impinjam ao automóvel um roncar de motor mais mansinho, mansinho até
quase parar, de modo que o gorjeio dos pássaros se firme às margens das autopistas!
E ordene, aí com a devida polidez, que a fria política se exerça no calorzinho
bom da praça ensolarada!
Já isto basta, pois
para a montanha das outras muitas chagas do mundo são precisos outros muitos mil
outonos de sol em céu azul!
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