Do buraco, o tatu levantou o sujo focinho aos céus e se
encantou com o voo desgarrado da gaivota.
Nas estranhezas do amor, o tatu se encantou pela gaivota.
Das nuvens, a gaivota avistou no chão o bicho cascudo, e acenou
alegre, admirada com as garras em firme solo do tatu.
Nas estranhezas do amor, a gaivota se enamorou do tatu.
Assim, o tatu quis céu, a gaivota quis terra.
Quereres tão estranhos às leis da natureza fizeram com que
outros bichos se assanhassem a protestar.
E relincharam, mugiram, grunhiram, cacarejaram, berraram,
uivaram, ladraram, piaram, grasnaram, zumbiram, roncaram e muito mais vociferaram, ciosos
das convenções sociais, as dadas aos animais.
Mas tantas injúrias pouco adiantaram, pois delicadas penas e
rudes escamas se encontraram, e de tanta luz e tanta sombra nasceu o filho do tatu com a gaivota.
O tatu sonhou legar à cria certa ousadia para enfrentar do
alto o mundo, enquanto a gaivota suspirou transmitir ao filho a segurança de
quem se abriga entre sólidas raízes.
Não sendo humanos, logo se entenderam e ao filho da gaivota
com o tatu foi dado viver com a ousadia das asas e com a firmeza das
garras.
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário