sábado, 7 de setembro de 2013

O tatu e a gaivota ()

Do buraco, o tatu levantou o sujo focinho aos céus e se encantou com o voo desgarrado da gaivota.

Nas estranhezas do amor, o tatu se encantou pela gaivota.

Das nuvens, a gaivota avistou no chão o bicho cascudo, e acenou alegre, admirada com as garras em firme solo do tatu.

Nas estranhezas do amor, a gaivota se enamorou do tatu.  

Assim, o tatu quis céu, a gaivota quis terra.

Quereres tão estranhos às leis da natureza fizeram com que outros bichos se assanhassem a protestar.

E relincharam, mugiram, grunhiram, cacarejaram, berraram, uivaram, ladraram, piaram, grasnaram, zumbiram, roncaram e muito mais vociferaram, ciosos das convenções sociais, as dadas aos animais.

Mas tantas injúrias pouco adiantaram, pois delicadas penas e rudes escamas se encontraram, e de tanta luz e tanta sombra nasceu o filho do tatu com a gaivota.

O tatu sonhou legar à cria certa ousadia para enfrentar do alto o mundo, enquanto a gaivota suspirou transmitir ao filho a segurança de quem se abriga entre sólidas raízes.

Não sendo humanos, logo se entenderam e ao filho da gaivota com o tatu foi dado viver com a ousadia das asas e com a firmeza das garras. 

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