domingo, 28 de outubro de 2012

Inácio, o galináceo ()


Inácio era chegado num drama.  Seu cacarejo elevava sentimentos ao céu, dava arrepios até nas almas mais sensíveis. Diziam que seu canto anunciava crepúsculos, não alvoreceres.

Vaidoso, Inácio tornava palco o que era sujo poleiro, e prometia arte ao instintivo ofício de noticiar manhãs. Queria sinceramente comover, dar voz às dores galináceas, aos penares  dos irmãos de penas. Pensava subverter o mecânico anunciar da aurora, lançar luz sobre o viver dos galos, ver o mundo muito além da granja.

Seja por conta das pretensões ou porque a vida é mesmo assim, Inácio foi para a panela. No último ato, estava divino – pura arte dramática –, em sangrento banquete estendeu-se à mesa o bardo, servido que foi ao molho pardo.


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