Inácio era chegado num
drama. Seu cacarejo elevava sentimentos
ao céu, dava arrepios até nas almas mais sensíveis. Diziam que seu canto anunciava
crepúsculos, não alvoreceres.
Vaidoso, Inácio tornava palco o
que era sujo poleiro, e prometia arte ao instintivo ofício de noticiar manhãs.
Queria sinceramente comover, dar voz às dores galináceas, aos penares dos
irmãos de penas. Pensava subverter o mecânico anunciar da aurora, lançar
luz sobre o viver dos galos, ver o mundo muito além da granja.
Seja por conta das pretensões ou
porque a vida é mesmo assim, Inácio foi para a panela. No último ato, estava
divino – pura arte dramática –, em sangrento banquete estendeu-se à mesa o
bardo, servido que foi ao molho pardo.
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domingo, 28 de outubro de 2012
Inácio, o galináceo ()
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