A coruja era versada em variados temas e facilmente
explanava sobre literatura italiana, revolução cubana ou sobre a cultura da
cana.
Já o papagaio era ave
de poucas letras e muitas falas. Especulava a respeito de qualquer assunto barato, passageiro,
banal, sem importância. A ave cheia de cores tinha só ouvidos para os boatos inconsequentes,
as maledicências, as conversas ligeiras e as fofocas juvenis.
Apesar de tipos tão distintos, os bichos não se davam de
todo mal. A afoiteza do papagaio realçava a prudência da coruja, a relutância
da coruja valorizava o atrevimento do papagaio.
Desse jeito, a coruja podia tratar de complexos temas, como
as equações e os teoremas; o papagaio, sobre qualquer coisa ordinária, como os
encantos do tucano por uma canária.
Acontece que certo dia embrenhou-se na mata um faminto tigre. Diante
de tão cruel espécie, o papagaio só viu o que merecia ser visto: uma enorme
boca e muitos afiados dentes. Fofoqueiro e boa alma que era, fugiu anunciando o
perigo aos quatro ventos.
Por sua vez, a coruja, atenta ao paradoxo de tigre africano
em continente americano, explorou o que para ela foi tido por simulacro. Pôs o tigre em
questão e aproveitou a ocasião para discutir globalização.
O tigre, fugido da cidade, pois cansado de passar
necessidade em circo pobre e de pouca variedade, foi mais incisivo no debate,
cortante na argumentação, e de pronto jantou a coruja.
Testemunha do ato vil, o papagaio ligeiro levantou voo
tagarelando que diante de fatos não há argumentos e muitas outras asneiras
mais.
Tempos depois, confirmando tendência já anunciada, a mata
foi loteada por empresa globalizada. E o papagaio, desatento ao contexto, passou
a anunciar sua sorte e a dos outros preso a pobre realejo.
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Você!!!! Cada vez melhor:-)
ResponderExcluirSaudades!