Na mata se percebia uma estranha relação, das antas com os saguis.
Não se sabe por que diabos, mas desde que as antas se
conheciam por antas, e os saguis por saguis, a coisa ocorria assim.
Os saguis, algo macacos que eram, perturbavam, azucrinavam, apoquentavam
as pobres antas. As antas, antas que eram, aceitavam impassíveis as provocações.
Talvez por força do tempo, ou vício do hábito, os mamíferos
de rabo curto se tornaram cada vez mais indolentes e também obedientes; já os
primatas de cauda longa, mais salientes e exigentes.
Como entendiam natural, os saguis, animais pouco letrados, mas versados na arte do viver folgado, faziam das antas burros de carga.
Assim, as antas servis passaram a atender os caprichos dos saguis.
A coisa era tão arranjada que cada anta servia a um membro da macacada.
Ocorre que uma das antas não era tão anta assim. Não sendo
tão anta, ansiava que aquela situação um dia tivesse fim.
Então, num dia como outro qualquer, um dos saguis ordenou: “Anta,
não tenha por banal aquilo que lhe compete, deixa de moleza e atenda sua
realeza!”.
E continuou seus xingamentos: “Anta ralé, tire meus
bichos-de-pé e me faça cafuné! Anta sem esperança, faça-me sombra com sua enorme pança!”
Aproveitando a deixa, e não disposta a mais tormento, a
anta, bicho estudado, sentiu que chegara o momento e sentou seu corpo pesado no
sagui, bicho folgado.
Impassível, limpando seus óculos sobre o sagui ali
estatelado, e diante de seus pares espantados, a anta pôs-se outra vez de pé
apenas para citar Brecht: “Não achem natural o que muito se repete!”.
Mais que depressa, todas as gordas antas se sentaram nos
esquálidos saguis.
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